terça-feira, julho 20, 2010

Sol do amanhecer

Gosto de como em noventa por cento das vezes ele chega aqui sem avisar. Sinto-o quando abro as janelas do quarto ao amanhecer. Tão bem vindo por mim.

Gosto também quando a natureza envia sinais na noite anterior. Uma brisa diferente e já posso prever a sua chegada. Então me faço de desentendida e ao acordar abro o mesmo sorriso como se ele fosse inesperado.

Gosto do frio. De me encolher dentre as cobertas para tentar – em vão – me aquecer melhor. Usar meias o dia inteiro, assim como vestir moletons velhos e gastos dentro de casa e ficar deitada preguiçosamente no sofá, mergulhada em lençóis, bebendo chocolate quente, cappuccino ou chá morninho.

Gosto de abrigar clandestinamente meus cachorros dentro de casa. Faço para eles uma casinha improvisada de caixas de papelão e lençóis velhos para eles se aquecerem. Vê-los tremendo de frio parte o meu coração.

Gosto de sentir o vento em meu rosto, bagunçando meus cabelos, esfriando meu nariz e fazendo-me lacrimejar. Gosto de saber que deveria vestir três blusas de frio antes de me aventurar pelas ruas, mas visto apenas duas só para poder senti-lo melhor, afagar os braços, mergulhar as mãos congeladas nos bolsos do casado e dizer “poxa, que frio está fazendo!”.

Gosto da sensação gostosa da água quente do banho em meu corpo, relaxando cada músculo e aquecendo-os. Gosto de como assim que desligo os chuveiros o frio entra sem eu nem mesmo abrir frestas no ambiente, fazendo-me tremer e enxugar-me rapidamente, vestir-me rapidamente, aquecer-me rapidamente, odiar o frio muito, muito rapidamente.

Gosto de ficar dias sem ver o sol, tão presente nesta cidade durante o ano. O sol sai como que de férias e deixa as nuvens densas em seu lugar, mas volta tão rápido como que de saudades da capital mais quente do Brasil. E quando volta é tão bom matar as saudades! Gosto de sentir o sol logo de manhã cedo, um dia antes de o calor arrebatador voltar. É um sol diferente, que aquece lenta e gostosamente a pele, como em um abraço de quem está voltando de longa viagem.

Gosto do inverno estranho daqui. Calor corriqueiro de trinta e dois graus Celsius na sombra intercalando com frentes frias que, em noventa por cento das vezes chega sem avisar. Sinto-as quando abro as janelas do quarto ao amanhecer. Tão bem vindas por mim.